“Espero que isso sirva de exemplo para muitas meninas que não pedem ajuda e não querem reconhecer que estão doentes.” Recortei de uma reportagem num jornal a frase anterior, a qual, com algumas variantes, foi repetida à exaustão por toda a mídia nos últimos dias, depois da morte de uma modelo por anorexia.

Gostaria de suscitar a discussão de um tema correlato que, na minha opinião, não foi focado até agora com a devida atenção: por quê meninas e meninos com 12 ou 13 anos são entregues a estes fashion’s da industria da moda para serem usados quase como escravos, trabalhando com uma carga horária indefinida, morando em quitinetes repletas de beliches, comendo (?) pouco e sendo privados do convívio familiar tão importante na adolescência, este momento crucial do desenvolvimento humano?

A mídia tem dado ênfase aos organizadores de uma fashion week numa cidade espanhola que exigiram um peso mínimo para as modelos que quisessem fazer parte de seus desfiles. Creio que poderíamos ir além nesse debate e fazermos valer, ao menos em nosso país, que crianças e adolescentes não deveriam participar de desfiles de moda. Ou acaso atuar como modelo não é uma forma de trabalho? O Estatuto da Criança e do Adolescente, quando proibi a exploração infantil no trabalho excetua a profissão de modelo no corpo do seu texto?

Creio que o Ministério Público e o Conselho Tutelar podem pensar numa forma de impedir que outras crianças tenham suas infâncias ceifadas pela negligência ou ignorância dos pais e pela voracidade sádica de empresários dispostos a engordar suas contas bancárias à custa do sangue de crianças desamparadas.

Voltando à frase inicial da mãe da garota assassinada pela indústria fashion, precisamos entender de uma vez por todas, enquanto nossos filhos estão vivos, que quem cuida de uma criança somos nós, os adultos, seus pais ou responsáveis, e não ela mesma. Crianças não precisam querer nem pedir por cuidado, elas merecem, precisam e devem ser cuidadas o tempo todo.


Claudemir Casarin dos Santos - Psicólogo